Às vezes in, às vezes quieto.

“Como não tenho palavras, faço minhas letras, construo meus alfabetos, destruo imagens, reconstruo outras. Tento fazer reviver as coisas. Tento dar sentido a qualquer coisa. Para mim tudo é linguagem, tudo é colagem.Fragmentos, pedaços ou inteiros que chamo de meus personagens, meus atores. Coloco-os no cenário que também recrio. Então procuro, disso tudo, montar minha peça, o meu teatro – junto uma trupe de materiais/intérpretes. Um trabalho que pode ser um monólogo ou somente o cenário, ou mesmo ninguém no  palco, onde a iluminação seja o sol que na sua trajetória faça mover através de luz e sombra tudo que está lá. Sem palavras, mas com som, um violão ou talvez uma sinfônica com todos os instrumentos. A melodia, a sonata, a ressonância, o conteúdo sinfônico – tonal, atonal, seja lá o que for, para ouvir ou sentir com os olhos. Fazedor e refazedor. No caminho para chegar lá. Às vezes sonho em preto e branco, às vezes em sépia e raras vezes nas outras cores. Converso muito com meu trabalho. Nem sempre tenho resposta. Busco entendê-lo e, quando não, guardo-o na gaveta e retomo a conversa no dia seguinte. Ou no ano seguinte. Ou quem sabe. E assim vivo e revivo com a obra, mesmo enquanto ela hiberna. Quando despertamos desse estado o processo pode se concluir. Ou não. Tudo de novo, de novo e de novo. Pois colagem é inquietude. Como viver é incessante.”

Tide Hellmeister